vai o rio
o rio vaia
o tempo
lento com peixe
dentro
reto e tonto
e o torto leito
estreito com
vento alheio à
vida
transe sem devaneio
puro de pulmão
cheio
sem lenço
e sem
documento
rumando sem
despedida
incerto como uma trilha
e curvo
qual pensamento
pescado de
pesadelo
risco
verso
no universo
às vezes controverso
vira esquina
quinas mar
cão sem dono
beira-mar
menino sem lar
mulata sem
par
pareado com o ar
cortando mata
bicho sem pata
prata preta
primata
lambendo a
mata
cobra que
leva mala
e faz que fala
mas
cala
e leva tralha
pau oco osso
o fundo do poço
leva também um rosto
em seu espelho
que serve ao céu
e embriaga a lua
rua aberta no
nada virando
estrada trilho
que leva ao mar
caminho sem caminhão
vala coberta de lodo
e água e
pedra e pau
- que não é oco –
e a sereia
e o boto
e o sempre e o todo
no seu curso
atemporal.