
Indubitavelmente, nenhum outro poeta foi tão conhecido
pelas massas quanto Vinícius de Moraes. Fato que, muito provavelmente, só foi
alcançado devido a seu envolvimento com a Música Popular Brasileira – sobretudo
a Bossa Nova. Porém, o melhor Vinicius – ou aquele que é mais importante para a
literatura – é o da Antologia Poética. Na obra verificamos um grande poeta, que
alcança sua redenção e seu caminho mediante a poesia, que adquire importância crucial
na lua dos homens. Foi por meio do fazer poético que o homem Vinícius de Moraes
encontrou seu caminho: superou a religiosidade fundamentalista, o fascismo e a
angustia existencial.
Sua obra, como ele próprio sugere,
divide-se em duas distintas fases. A primeira, que contempla seus três
primeiros livros (O Caminho Para a Distância, Forma e Exegese e
Ariana, a Mulher), é unanimemente caracterizada como uma fase amplamente
mística, religiosa, metafísica, totalmente despregada do cotidiano, fortemente
influenciada pelo Parnasianismo e pelo Simbolismo. A linguagem desta fase, de
retórica elevada, é recheada de preciosismos e de vocabulário litúrgico, que se
manifesta em longos versos. Cinco Elegias abre a segunda e mais
importante fase do poeta. Nesse momento, Vinicius já alcançara a maturidade
poética e, finalmente, abrira-se para o modernismo. A característica mais
importante dessa fase é a aquisição do cotidiano. O poeta deixa de cantar
anjos, Serafins e mulheres inalcançáveis (neo-neo-neoplatonismo amoroso) para
tratar de assuntos ligados ao cotidiano; a vida terrena passa a ser a matéria
poética. É com a superação de sua reacionária primeira fase que a herança
modernista começa a fazer sentido para ele. Vinícius abandona, então, a
retórica elevada, o vocabulário litúrgico, o preciosismo inútil e ornamental para
dar vazão à linguagem simples do dia-a-dia e ao verso contido. Porém, sabe
pesar bem as coisas; consegue suprimir os excessos do modernismo de 22 e
incorporar aquilo que foi, de fato, inovador e revolucionário. Assim,
revaloriza o soneto, que havia sido abolido pelos modernistas da fase heróica
(22), que é repetido na forma, mas revitalizado no tema.
Dizem que Carlos Drummond de Andrade – para muitos o
maior poeta brasileiro – nutria uma grande inveja de Vinícius, pois este era
expansivo, carismático, sedutor, de boa aparência etc. Certa vez declarou que o
poeta das Cinco Elegias “foi o único entre nós que teve a vida de Poeta, o
único que viveu como Poeta. Eu queria ter sido Vinicius de Moraes".