
Dois mil e doze. Copacabana faz cento e vinte anos.
Drummond, cento e dez. Lembro-me de minha passagem pelo bairro das calçadas alvinegras.
O dia estava lindo, combinando com a paisagem exuberante do lugar. Muito sol,
muita gente e cerveja; tudo lindo! A menina deitada na areia era como uma
sereia, que acabara de sair do fundo encantado do mar. Daquele mar azul, de
graves abismos, mas que espelhava o céu. E o céu naquele dia estava cheio de
deuses, a contemplar mais uma tarde perfeita na cidade maravilhosa.
Queria encontrar a estátua de
Drummond. Uma em que ele está sentado, com as pernas cruzadas num banco da orla
da praia. Não me interessava mais as meninas de Copacabana e seus bronzeados
divinos, nem a cerveja que tomava com gosto. Rumava fixo à estátua, para
conhecer o maior dos poetas brasileiros. Quem sabe ele me desse alguma dica de
como trabalhar meus versos. Quem sabe me falasse sobre a máquina do mundo,
sobre as intermináveis pedras que brotam como mato no caminho da gente. Quem
sabe se incomodaria com o assédio de um fã- tiete: “Não se respeita mais o
descanso dos poetas no Rio de Janeiro, quero embora pra Itabira!”.
Procurei-te, poeta! Enveredei-me por
becos, ruas e avenidas. Caminhei pela praia. Fui ao mar. Perguntei a um
policial onde encontrar-te. Em vão. Ele me disse que trabalhava naquelas
paragens há vinte e dois anos e nunca vira estátua alguma daquela feição.
Tentei explicar-lhe que era uma estátua famosa, cuja foto saíra muitas vezes
nos jornais e nas revistas. E nada... O homem perdeu a paciência com minha
insistência; deixou-me sozinho, a ver navios. Procurei um quiosque, é claro que
ali haveria pessoas que sabiam informar-me. Falhei no eu intento, novamente.
Ali as pessoas confortavelmente bebiam cerveja e olhavam o mar, sabendo que
nada lhes aconteceria. Absolutamente
ninguém sabia me dizer onde encontrar o poeta. Perambulei pelo bairro até a
consolidação da noite. “A noite espalhou o medo / e a total incompreensão”.
Desisti de te achar, Carlos! Tinhas razão, Carlos, a noite dissolve os homens.
Voltei cabisbaixo pela praia, e a máquina do mundo não se abriu pra mim. Não vi
mais sereias, nem céu, nem deuses, nem mar, mais nada, somente a noite: “mortal,
/ completa, sem reticências”, dissolvendo os homens.
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