domingo, 8 de julho de 2012

UM DIA EM COPACABANA




Dois mil e doze. Copacabana faz cento e vinte anos. Drummond, cento e dez. Lembro-me de minha passagem pelo bairro das calçadas alvinegras. O dia estava lindo, combinando com a paisagem exuberante do lugar. Muito sol, muita gente e cerveja; tudo lindo! A menina deitada na areia era como uma sereia, que acabara de sair do fundo encantado do mar. Daquele mar azul, de graves abismos, mas que espelhava o céu. E o céu naquele dia estava cheio de deuses, a contemplar mais uma tarde perfeita na cidade maravilhosa.

Queria encontrar a estátua de Drummond. Uma em que ele está sentado, com as pernas cruzadas num banco da orla da praia. Não me interessava mais as meninas de Copacabana e seus bronzeados divinos, nem a cerveja que tomava com gosto. Rumava fixo à estátua, para conhecer o maior dos poetas brasileiros. Quem sabe ele me desse alguma dica de como trabalhar meus versos. Quem sabe me falasse sobre a máquina do mundo, sobre as intermináveis pedras que brotam como mato no caminho da gente. Quem sabe se incomodaria com o assédio de um fã- tiete: “Não se respeita mais o descanso dos poetas no Rio de Janeiro, quero embora pra Itabira!”.

Procurei-te, poeta! Enveredei-me por becos, ruas e avenidas. Caminhei pela praia. Fui ao mar. Perguntei a um policial onde encontrar-te. Em vão. Ele me disse que trabalhava naquelas paragens há vinte e dois anos e nunca vira estátua alguma daquela feição. Tentei explicar-lhe que era uma estátua famosa, cuja foto saíra muitas vezes nos jornais e nas revistas. E nada... O homem perdeu a paciência com minha insistência; deixou-me sozinho, a ver navios. Procurei um quiosque, é claro que ali haveria pessoas que sabiam informar-me. Falhei no eu intento, novamente. Ali as pessoas confortavelmente bebiam cerveja e olhavam o mar, sabendo que nada lhes aconteceria.  Absolutamente ninguém sabia me dizer onde encontrar o poeta. Perambulei pelo bairro até a consolidação da noite. “A noite espalhou o medo / e a total incompreensão”. Desisti de te achar, Carlos! Tinhas razão, Carlos, a noite dissolve os homens. Voltei cabisbaixo pela praia, e a máquina do mundo não se abriu pra mim. Não vi mais sereias, nem céu, nem deuses, nem mar, mais nada, somente a noite: “mortal, / completa, sem reticências”, dissolvendo os homens.

Nenhum comentário:

Postar um comentário